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O passado, o presente e o desejado futuro da Lagoa da Jansen

 Quando o ex-governador José Sarney inaugurou a Ponte do São Francisco em 14 de fevereiro de 1970, talvez nem ele mesmo imaginasse o impacto que a obra teria na aceleração do processo de urbanização da capital maranhense. O conjunto que hoje integra os bairros do São Francisco, Renascença, Ilhinha, Ponta D’Areia, Calhau e Península era formado apenas manguezais, igarapés, praias desertas e ocupado por pequenas ilhas de pescadores.

PRÉ-HISTÓRIA

Após a construção da Ponte do São Francisco foi iniciado o processo de urbanização no norte da cidade. Foram abertas ruas, avenidas e a geografia natural começou a ser gradativamente substituída por paisagens artificiais.

A necessidade de ligação rodoviária com a Ponta D’Areia, São Francisco e Calhau acabou modificando profundamente a geografia local. Nessa época a parte note da ilha era cortada por igarapés.

A construção de avenidas e ruas cortando dois desses igarapés, (Igarapé da Jansen e Igarapé do Jaracaty), que se estendiam do Jaracaty até a Ponta D’Areia, resultaram no represamento de águas que acabou formando um espelho d’água que começou a ser chamado de “Lagoa da Jansen”. Logo, o lugar só veio a existir após a ação humana.

URBANIZAÇÃO

Após 30 anos da inauguração da ponte que iniciou o processo de urbanização, coube a ex-governadora Roseana Sarney consolidar o processo iniciado nos anos 1970 com a urbanização da Lagoa da Jansen. A obra, vista na época como uma das maiores da história da capital maranhense, propiciou uma reestruturação rodoviárias com a criação de novas avenidas e a construção de um aparato de esporte e lazer até então desconhecido pela maioria dos maranhenses.

Foram quadras de futebol, concha acústica, pista de skate, pista de bicicross, quadra de areia, pequenas arenas, bares, ciclovias, mirante e pista de cooper. O parque conta com um total de 196 hectares.

A obra aumentou as expetativas para o local e faz explodir a ocupação imobiliária. O entorno da Lagoa da Jansen se tornou o primeiro lugar da cidade a abrigar um “bairro de prédios”.

Segundo o urbanista Roberto Furtado, que reside na área, a obra melhorou bastante a situação na área. “Era tudo um grande manguezal. A obras urbanizou a tal ponto que, imediatamente após seu início, a área teve uma valorização estratosférica ainda durante a obra”, disse.

Infelizmente o processo de urbanização desencadeado pelo governo do estado em 1970 e consolidado na década de 1990 não foi acompanhado pelas gestões municipais. A ausência de uma política de ocupação e de fiscalização resultou na degradação do espelho d’água.

“Uma série de pontos clandestinos de esgotos foram sendo feitos. Os projetos dos apartamentos continham a criação de estações de tratamento e de fossas. Contudo, como não havia a fiscalização, esses aparatos sanitários eram substituídos por encanações que despejavam o esgoto in natura na Lagoa”, explicou Furtado.

Cerca de 10 anos após a obra de urbanização, o Governo do Estado revitalizou a área. Na época a mata acumulada tornava impossível ver o espelho d’água da terra. “Chamei o Ministério Público e mostrei que aquilo não poderia continuar daquele. Fizemos a poda e, a partir dela, reformulados tudo”, disse o ex-secretário metropolitano Ricardo Murad em conversa com O Estado.

Contudo, mesmo com a atuação do governo em um espaço de tempo tão curto, a área sofreu com um problema de estagnação e, em algumas localidades, decadência.

AS BARREIRAS E AS SOLUÇÕES

Hoje em dia nenhum dos bares criados ainda na década de 1990 está em uso. Sobraram apenas ruínas. Os restaurantes e bares do entorno sofrem com problemas considerados relativamente simples, como esgotos estourados e alagamentos durante período de chuva.

Além da poluição, moradores da área e empresários do local acreditam que a falta de segurança e a impossibilidade de investimentos privados na área contribuiu para um processo de desgaste e “fuga do público”.

Ex-locatários dos bares nas margens da Lagoa afirmam que a política de controle formulada pelo governo do estado, que detém o comando da área, atrapalha demais o desenvolvimento do lugar. “Isso (gerenciamento pelo governo) não é de agora, veio de antes. O projeto de urbanização do ponto de vista físico foi sensacional. Só que os governantes não perceberam que o Estado não tem condição de manter aquela estrutura. E nós que recebemos o mobiliário éramos proibidos de fazer a manutenção e melhoramento”, disse um empresário.

Recentemente o secretário de Indústria e Comércio afirmou que irá propor ao governador Flávio Dino uma espécie de privatização da Lagoa. Segundo ele, a medida iria dar um choque de gestão e iria atrair milhões em investimentos para o lugar. “Infelizmente lá (Lagoa da Jansen) é um lugar que poderia gerar muito mais empregos e ser um símbolo da cidade. Só que está esquecido. Infelizmente o modelo de gestão dos governos anteriores fracassou”, disse Simplício.

Para ele, uma concessão seria ideal. “Há muitas áreas que podem ser exploradas comercialmente sem que aja detrimento do uso das áreas públicos. Uma concessão iria garantir, de uma vez só, a despoluição e os investimentos em infraestrutura. Tenho convicção disso”, explicou.

Uma outra barreira apontada por pessoas ouvidas pela reportagem é o Plano Diretor e a Lei de Zoneamento de São Luís. O Plano Diretor é de 2006 e a Lei de Zoneamento é de 1994. Ambos são de responsabilidade da Prefeitura de São Luís. Para se ter uma ideia do impacto da legislação caduca, a área do entorno da Lagoa que não está em avenida permite a construção de prédios com, no máximo, 11 andares. “Essa legislação caduca não prejudica apenas a Lagoa, mas toda a cidade”, disse Simplício.

Apesar das críticas, todos são unânimes em afirmar que a Lagoa não precisa de uma intervenção grande do governo e que, dentro de seus limites, cumpre função social importante na cidade. “A Lagoa hoje é habitada, não está abandonada. Você pode ver que alguns aparelhos são muito usados, como a quadra de tênis, o skatepark, as pistas de cooper e ciclovias. Só que pequenos ajustes poderiam melhorar ainda mais a situação”, disse Roberto Furtado.

Todos os ouvidos também concordam que hoje em dia o maior gargalo do processo de recrudescimento do processo de urbanização passa, invariavelmente, pela despoluição das águas. “Hoje em dia o principal problema reside nos pontos de esgoto e na profundida baixa da lagoa. O governo atual já combateu muito a emissão de esgoto na área, mas ainda falta algo a ser feito. Já a profundidade rasa também tem implicações negativas para o meio ambiente. A engenharia é simples: dragagem e fim dos pontos de esgoto. A despoluição ficaria por conta da própria maré”, disse Roberto Furtado.

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